A deputada federal Roseana Sarney, de 72 anos, ex-governadora do Maranhão e filha do ex-presidente José Sarney, revelou em agosto de 2025 que foi diagnosticada com câncer de mama triplo negativo. Em vídeos compartilhados nas redes sociais, ela mostra as sequelas da quimioterapia — cabelos caídos, pele sensível, coceira insuportável — e a coragem de seguir em frente. Até novembro, já havia completado 11 sessões. A cirurgia está marcada para os próximos meses. Não é o primeiro câncer que enfrenta. Em 1998, durante a campanha à reeleição, passou por quatro cirurgias em um único dia. Até 2016, já havia sido operada 23 vezes. Agora, mais uma vez, ela vira paciente e, ao mesmo tempo, porta-voz de uma doença rara e agressiva.
O que é o câncer de mama triplo negativo?
É um subtipo do câncer de mama que não expressa os receptores de estrogênio, progesterona nem a proteína HER2. Isso significa que os tratamentos hormonais — como o tamoxifeno — e os medicamentos direcionados, como o trastuzumabe, não funcionam. Segundo o oncologista Daniel Musse, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e da Rede D'Or São Luiz S.A., esse tipo representa cerca de 15% dos casos no Brasil. "É mais agressivo, cresce rápido e tem maior risco de recorrer nos primeiros dois ou três anos", explica. O que o torna ainda mais difícil é que, muitas vezes, não dá sinais até já estar em estágio avançado. A mamografia ainda é a principal ferramenta de detecção precoce, mas nem sempre pega esse tipo de tumor em estágio inicial.
Genética, imunoterapia e avanços no tratamento
Uma parte significativa dos casos de câncer triplo negativo está ligada a mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. "Mulheres com essas alterações genéticas têm até dez vezes mais risco de desenvolver a doença ao longo da vida", diz Musse. É por isso que, em famílias com histórico, o teste genético é recomendado — algo que Roseana provavelmente já passou, dada a gravidade do quadro e o histórico familiar. Mas há luz no fim do túnel. Desde 2019, pacientes com tumor que expressa o receptor PD-L1 têm acesso à imunoterapia com atezolizumabe, aprovado pela ANVISA. Estudos mostram que essa combinação com quimioterapia pode reduzir em até 38% a taxa de mortalidade. "Antes, era quase só quimioterapia. Hoje, temos armas novas", afirma o médico.
A jornada de Roseana: de líder política a paciente corajosa
Roseana Sarney foi a primeira mulher eleita governadora do Brasil — e fez isso por quatro mandatos. Foi senadora, líder do governo no Congresso, e sempre foi símbolo de força. Mas, ao compartilhar seu tratamento, ela deixou de ser apenas uma figura pública para se tornar um exemplo humano. Nos posts, ela mostra a dor da coceira, o cansaço, o rosto inchado. "Nunca imaginei uma coceira incomodar tanto", escreveu em outubro de 2025, enquanto se preparava para a 11ª sessão. O fato de ela estar falando abertamente é revolucionário. Em um país onde o câncer ainda é silenciado por vergonha ou medo, sua transparência inspira outras mulheres a procurar ajuda. "Essas mensagens e orações me dão força e fé", disse ela. E não é só emoção: é um ato político.
Um histórico de luta contra o câncer
Em 1998, Roseana foi diagnosticada com câncer durante a campanha eleitoral. As cirurgias foram longas — oito horas seguidas — e incluíram a remoção de um nódulo no pulmão, um tumor na mama, histerectomia e retirada de nódulos intestinais. Até 2016, já havia passado por 23 procedimentos cirúrgicos. A primeira vez foi aos 19 anos, quando descobriu um nódulo benigno. Desde então, sua vida virou um campo de batalha contra a doença. Agora, aos 72, ela enfrenta o mais desafiador de todos: um câncer que não responde aos tratamentos tradicionais. Mas ela não se cala. E isso é o que mais importa.
O que isso significa para as mulheres brasileiras?
Quando uma figura pública como Roseana fala abertamente sobre câncer triplo negativo, o impacto vai além da empatia. Ela torna visível uma doença que muitas vezes é ignorada. A taxa de mortalidade por câncer de mama no Brasil ainda é alta — cerca de 14 mil óbitos por ano, segundo o INCA. Mas a detecção precoce pode aumentar a sobrevida de 70% para mais de 90%. A recomendação do oncologista Wesley é clara: mulheres acima de 40 anos devem fazer mamografia anual, e aquelas com histórico familiar devem buscar avaliação genética. "Não espere dor ou nódulo visível. O câncer triplo negativo muitas vezes não dá sinais até estar avançado", alerta.
Qual o próximo passo?
A cirurgia programada para Roseana será o próximo marco. Se o tumor for localizado, a remoção pode ser curativa. Mas, mesmo após a operação, o risco de recorrência persiste — especialmente nos primeiros anos. Por isso, o acompanhamento contínuo é essencial. Ainda há pesquisas em andamento com novas drogas e vacinas experimentais, especialmente voltadas a mutações BRCA. Em 2026, a expectativa é que novas opções de imunoterapia sejam aprovadas no Brasil. Enquanto isso, Roseana segue na luta. E, com ela, milhares de mulheres que agora se sentem menos sozinhas.
Frequently Asked Questions
O que torna o câncer de mama triplo negativo mais perigoso que outros tipos?
Ele não responde a tratamentos hormonais nem a medicamentos direcionados, como o tamoxifeno ou trastuzumabe, porque não possui os receptores de estrogênio, progesterona ou HER2. Isso limita as opções terapêuticas e o torna mais agressivo, com crescimento mais rápido e maior risco de recorrência nos primeiros dois a três anos após o diagnóstico. Cerca de 15% dos casos no Brasil são desse tipo, e muitos estão ligados a mutações genéticas como BRCA1.
Por que Roseana Sarney está sendo um exemplo para outras mulheres?
Ao compartilhar publicamente sua dor, perda de cabelo, coceira e cansaço, ela quebra o silêncio que ainda envolve o câncer no Brasil. Muitas mulheres evitam procurar ajuda por medo ou vergonha. Sua transparência, especialmente como uma figura pública de grande influência, incentiva outras a fazerem exames preventivos, buscar diagnóstico precoce e não se sentir sozinhas na luta contra a doença.
Quem deve fazer o teste genético para BRCA1 e BRCA2?
Mulheres com histórico familiar de câncer de mama antes dos 50 anos, câncer de ovário, ou múltiplos casos em parentes de primeiro grau devem considerar o teste. Também é recomendado para quem já teve câncer triplo negativo, especialmente se diagnosticado antes dos 60 anos. A mutação nesses genes pode aumentar o risco de câncer de mama em até dez vezes e também de câncer de ovário.
A imunoterapia realmente funciona no câncer triplo negativo?
Sim, mas apenas em pacientes cujo tumor expressa o receptor PD-L1. Nesses casos, o uso do atezolizumabe combinado à quimioterapia reduziu a mortalidade em até 38% em estudos clínicos. Aprovado pela ANVISA desde 2019, esse tratamento é uma das maiores conquistas nos últimos anos. Porém, nem todos os pacientes se encaixam nesse perfil — por isso, a análise do tumor é essencial antes de iniciar o tratamento.
Qual a importância da mamografia para detectar esse tipo de câncer?
A mamografia ainda é a principal ferramenta para detectar tumores pequenos e silenciosos, mesmo que o câncer triplo negativo seja mais difícil de visualizar em estágios iniciais. Ela é complementada por ultrassom e ressonância magnética, especialmente em mulheres com mamas densas ou alto risco genético. Detectar o tumor com menos de 1 cm aumenta a chance de cura em mais de 90%. Ignorar os exames pode significar perder o momento ideal para tratamento.
O que Roseana Sarney pode esperar nos próximos meses?
Após a cirurgia, ela provavelmente continuará com quimioterapia e, se indicado, imunoterapia. O risco de recorrência é mais alto nos primeiros dois anos, então o acompanhamento será frequente. Se o tumor for localizado e totalmente removido, a perspectiva é de longa sobrevida. Mas mesmo com sucesso, o tratamento pode deixar sequelas físicas e emocionais. Seu maior legado, porém, já está feito: ela transformou sua dor em uma mensagem de esperança para milhares.
1 Comentários
Vanessa Aryitey-18 novembro 2025
Essa mulher é uma guerreira de verdade. Não é só coragem, é resistência física e moral. Ela não pediu permissão pra ser forte, simplesmente foi. E agora, com 72 anos, ainda tá lá, de cabelo caído, coçando a pele, mas falando alto. O sistema de saúde não tá pronto pra mulheres como ela, mas ela tá pronta pra enfrentar o sistema. Ninguém te ensina como lidar com isso. Você só descobre na dor. E ela tá ensinando todo mundo.
Quem diz que política não importa? Ela tá transformando política em vida real. Não é discurso, é sangue, suor e coceira insuportável. Isso é poder.
Se eu tivesse metade da coragem dela, eu já teria pedido ajuda há anos.
Parabéns, Roseana. Você não é só uma ex-governadora. Você é o espelho que o Brasil precisa ver.
Esse câncer não vai te derrotar. Ele só vai te transformar em lenda.