por Rodrigo Batista - 0 Comentários

Seis bandeiras vermelhas, chuva por setores e pole de Verstappen

Se você piscou, perdeu algo. A classificação do GP do Azerbaijão 2025 foi um daqueles sábados que viram folclore na Fórmula 1: seis bandeiras vermelhas, trilhos molhados em alguns trechos e pista fria alternando aderência a cada minuto. No meio do caos, Max Verstappen segurou a pressão e colocou a Red Bull na pole, mostrando a mesma frieza que o levou ao título passado.

O grande destaque, porém, veio da Williams. Carlos Sainz encaixou uma volta madura em condições traiçoeiras e garantiu a segunda posição no grid, um resultado que vale ouro para uma equipe em reconstrução e que vem capitalizando bem quando a janela se abre. Logo atrás, Liam Lawson colocou a Racing Bulls em terceiro, prova de ritmo forte e leitura afiada do asfalto que mudava de humor a cada setor.

A Mercedes saiu da tempestade com saldo positivo: o novato Kimi Antonelli classificou-se em quarto, confirmando evolução nas mãos do italiano, enquanto George Russell fechou o top 5. Entre os favoritos ao título, a sessão virou um teste de nervos: Oscar Piastri, líder do campeonato, bateu no Q3 quando a chuva fina voltou e a borracha esfriou, encerrando sua participação e caindo para a nona posição no grid. Lando Norris, seu rival direto na McLaren, não conseguiu capitalizar totalmente o infortúnio do companheiro e parte em sétimo.

O brasileiro Gabriel Bortoleto, pela Sauber, confirmou consistência em pistas de alto risco e cravou o 13º tempo. Em uma sessão com pegadinhas por toda a volta de 6,003 km, ele evitou erros grandes, administrou bem o tráfego pós-bandeira vermelha e manteve margem para uma corrida de recuperação com chance real de pontos se a estratégia casar com o ritmo.

Charles Leclerc também foi personagem da bagunça: envolvido em uma das interrupções, o piloto da Ferrari não conseguiu encontrar uma volta limpa na hora decisiva e vai largar em décimo. Fora dos holofotes, a Haas viveu um capítulo amargo: Esteban Ocon foi excluído dos resultados da classificação por flexibilidade excessiva da asa traseira. Mesmo tendo terminado originalmente em 18º, o francês cai para o fim do pelotão e depende de autorização dos comissários para largar.

O Baku City Circuit fez o que Baku sempre faz. A reta enorme cria vácuo e decisões extremas de asa, mas o trecho do castelo e as curvas cegas no miolo não perdoam obstáculos invisíveis como a água que fica entre zebras e emendas de asfalto. Na prática, a sessão virou um duelo de acerto e timing: quem saiu um minuto antes pegou pista mais seca; quem esperou enfrentou nuvens que escureciam setores diferentes da volta, principalmente no segundo parcial. Não por acaso, os erros se concentraram em toques de roda no muro e saídas para a área de escape quando o pneu ainda não estava na janela.

Os seis períodos de bandeira vermelha quebraram o ritmo e bagunçaram as leituras de temperatura de pneus. Entre Q1 e Q3, equipes que apostaram em aquecimento agressivo de borracha levaram vantagem no out-lap, enquanto outras sofreram com falta de aderência na primeira curva. A Red Bull venceu pelo pacote: equilíbrio no eixo traseiro e velocidade final suficiente para travar a pole nos metros de alta.

  • P1: Max Verstappen (Red Bull)
  • P2: Carlos Sainz (Williams)
  • P3: Liam Lawson (Racing Bulls)
  • P4: Kimi Antonelli (Mercedes)
  • P5: George Russell (Mercedes)
  • P7: Lando Norris (McLaren)
  • P9: Oscar Piastri (McLaren, líder do campeonato)
  • P10: Charles Leclerc (Ferrari)
  • P13: Gabriel Bortoleto (Sauber)

Se a posição de Verstappen confirma favoritismo, os nomes na perseguição mudam o roteiro da corrida. Sainz tem costume de ler bem janelas de Safety Car e costuma alongar stints quando o carro permite. Lawson, com a Racing Bulls, será um marcador incômodo em ritmo de reta, o que pode atrasar rivais imediatos. A dupla da Mercedes terá de escolher: atacar cedo e arriscar desgaste ou proteger pneus para um undercut potente quando a janela abrir.

Estratégia, Safety Car e onde a corrida pode virar

Baku é terreno fértil para Safety Car e VSC. Isso muda tudo em estratégia, porque alonga stints e oferece pit stops “baratos”. As equipes já estudam dois cenários: corrida limpa com uma parada (soft para medium, ou medium para hard), e prova picotada com neutralizações, abrindo espaço para duas paradas e janelas oportunistas. O gerenciamento da temperatura dos freios e o aquecimento do pneu traseiro depois das relargadas serão cruciais.

Na frente, Verstappen tentará escapar do DRS logo nas primeiras voltas para evitar o vácuo assassino da reta principal. Se Sainz se mantiver a menos de um segundo, a Williams vira ameaça real, porque a eficiência aerodinâmica na baixa arrasto conta muito aqui. Lawson pode ser a carta que embaralha a vida das Mercedes: se segurar Russell e Antonelli por algumas voltas, a Racing Bulls abre espaço para undercut agressivo e proteção de posição.

O duelo interno da McLaren promete. Norris larga em sétimo, com pista livre o bastante para avançar no primeiro stint. Piastri sai do nono posto com a missão de limitar estragos de um sábado caro. A diferença entre sair da curva 16 com pneus na temperatura certa ou não define o ataque no fim da reta: dois décimos aqui viram ultrapassagem lá no fim. Se a equipe acertar o momento do pit e a ordem de parada, dá para resgatar um top 5, especialmente se vier um Safety Car no terço final.

Bortoleto, em 13º, está no ponto de mira perfeito para estratégia inversa. Se largar de pneus médios e alongar o primeiro stint, pode ganhar terreno quando os carros à frente pararem cedo ou em caso de intervenção do Safety Car. A Sauber tem mostrado paradas consistentes; se o brasileiro conseguir manter o pneu vivo até a janela certa, os pontos entram no radar sem precisar de milagre.

Ferrari e gestão de risco: Leclerc em décimo precisa de pista limpa e decisões frias. A equipe costuma ser conservadora em janelas de box em Baku, mas o sábado mandou um recado claro: quem esperar demais perde o bonde. Um undercut bem cronometrado com ar limpo no segundo setor pode destravar a corrida dele.

Fique de olho também no vento em rajadas na zona da freada da curva 1 e no ‘graining’ do pneu dianteiro esquerdo após sequências de voltas no limite. Quando a temperatura do asfalto fica abaixo do ideal, o pneu perde pedaços de borracha e o carro começa a deslizar na parte do castelo. Quem proteger o pneu no começo do stint costuma colher no fim.

No papel, a Red Bull de Verstappen tem o carro para controlar o domingo. Na prática, Baku raramente entregue corrida linear. Entre bandeiras, vácuo e decisões no box, a prova de 51 voltas deve misturar estratégia e coragem. E, depois de uma classificação que virou sobrevivência, metade do serviço será manter o carro inteiro até a volta 20. A outra metade? Escolher a volta certa para parar — e rezar para a bandeira amarela aparecer no tempo de quem arriscar.